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Aquela Runner Obcecada

Aquela Runner Obcecada

De mãos dadas com a ansiedade

Uau.

 

Há quanto tempo não vinha cá publicar. Tudo tem uma razão, um motivo, um fim.

2016 passou, 2017 foi um ano intenso em todos os níveis, e verdade seja dita que há tanto tempo não vinha aqui e deparei-me com um comentário infeliz. Porém a vida continua, e a minha "consciência" não podia  estar mais limpa que nunca.

Porém o que venho aqui falar é algo que é comum a muita gente.

Ansiedade e as crises.

 

Nunca disse a ninguém, ou sequer procurei ajuda clínica para as minhas crises de ansiedade, porque de certa forma eu conseguia controlá-la.

Este ano houve finalmente a abertura de concurso público para oficiais de justiça. Quando o concurso abriu eu estava a trabalhar numa empresa como administrativa e tinha responsabilidades acrescidas e o ambiente de trabalho era algo que não conseguia digerir, nada com as colegas de trabalho, porque foram incríveis, mas sim como as coisas de processavam. Adiante. Tudo isto contribuiu para eu andar num stress caótico com a minha própria cabeça, pois durante esses meses andei numa panóplia de acontecimentos...

 

Com a abertura do concurso, decidi por não continuar na empresa e arriscar em ingressar no concurso e assim foi.

Passou-se algum tempo e eis que dou por mim na sala de realização da prova de acesso. Pois a pessoa não pode somente ter a licenciatura, tem que fazer uma prova de modo a avaliar os conhecimentos. 800 candidatos, 400 vagas. Conseguem perceber a minha frustração no meio disto? Eu sou uma pessoa que tem pouca confiança. Sentia-me insegura. A prova foi realizada em 8 de Julho, no dia a seguir ao meu aniversário. No dia do meu aniversário senti-me a pessoa mais melancólica do mundo. Sabia que tinha estudado pouco, pois o meu tempo era dedicado ao trabalho, e quanto mais trabalho mais stress, mais treino...

Comecemos por aí...

Eu estudei muito pouco para o exame, de tal forma que o mesmo correu mal... Todavia mal ou bem consegui ser admitida. O exame de forma muito geral era dificil e com isto muita gente não passou. Azar de uns, sorte doutros.

 

Adiante...

 

Passemos agora à outra fase. Após saber que tinha sido admitida restava apenas concorrer aos lugares desejados e após, sairiam as listas de colocações.

Como o processo de ingressar no tribunal iria demorar algum tempo e eu não podia estar sem trabalhar (pois a pessoa não vive do ar), andei numa busca por trabalho temporário, ou melhor dizendo trabalho de Verão.Não ia estar de papo para o ar.

Inicialmente era para trabalhar na Figueira da Foz no casino, na vez disso acabei a trabalhar numa padaria e a par com isso, não satisfeita achei uma exelente ideia fazer serviço em casamentos, que mais não é do que trabalhar como uma negra...

 

Comecei os dois trabalhos em Julho...

 

Após ter saido do ginásio e perdido peso, comecei a correr novamente bem e sem lesões... Mas a partir de meados de Agosto comecei a sentir dores nas pernas, mais precisamente nos gémeos.

Houve mesmo um dia em que estava na pista com o meu amigo Pedro e sentia dores nos gémeos. Não era nada muscular...E lembro-me do Pedro dizer que eu corria muito porque tinha o gémeo bem desenvolvido... Não era bem assim.. Não me lembro de ter as pernas assim tão cheias...

Entre trabalhar todos os dias, sendo que de sabado para domingo trabalhava nos dois lugares (era sair da padaria,fardar-me para o casamento e sair do casamento para abrir a padaria). Sim eu era responsável por abrir a padaria. Tão grande acresceu a responsabilidade que a minha patroa deixava-me sozinha na padaria. Em pleno Verão, numa altura em que o movimento afluia... E eu sozinha numa padaria gigante. Pequeno almoço? Impossível . Almoçar , ou era as 4 da tarde ou não comia. Comecei simplesmente a retroceder. Uma pessoa que teve anorexia vê-se na iminência de não comer, começa a regredir porque o peso vai diminuindo e eu não tinha tempo para espirrar quanto mais enfiar algo na boca. Foi inevitável. Com  tanto trabalho eu comecei a deixar de comer e inevitavelmente a fome era nula ou inexistente.. Quem passa por isto sabe que não é fácil comer...

 

Mas houve um dia...

 

Eu continuava a trabalhar feita louca, a comer pouco e mal, a dormir entre 3 a 4 horas... continuava a treinar feita tola, a dar as caminhadas com a amiga.. Basicamente eu andava a fazer tudo.

Eis que chegou uma altura na padaria em que houve a festa da terra e como eu não sei dizer não, acabei por fazer os dois horários. Trabalhar de manhã  e à noite ...E ficava mesmo a dormir na padaria,uma hora senão mesmo com a roupa no corpo vestida...

Na altura trabalhava uma brasileira no turno da tarde, e ali a dita cuja não fazia o trabalho da tarde... O que se passava assim era que além de ter todo o trabalho da manhã, ainda tinha de ter o cuidado de organizar tudo o que ficava por fazer da tarde (o que envolvia ter os locais de manuseamento de alimentos limpo, arcas cheias,lixos devidamente no lixo...) O que não acontecia e para meu mal, sendo eu obecada com limpeza e organização ficava completamente descordenada da cabeça.

Houve um dia em que  a padaria encheu de tal forma que eu nem sabia onde me meter. A padaria tem duas salas... Nesse dia encheram as duas,fora as pessoas em pé...Nesse dia tinha a padaria organizada como o usual, isto dito de curto modo, tinha frios  a repôr entre outras coisas por fazer... Para quem trabalha, ou já trabalhou na restauração consegue entender os dilemas de não ter condições para trabalhar...

O que aconteceu nesse dia, é que um maldita peça da máquina de fazer sumo e o desejo dos clientes (a maioria emigrantes), juntou-se. Nesse dia toda a gente parecia ter acordado com desejo ânsio de beber sumo de laranja e comer torradas... Agora imaginemos que a padaria tem mais de 8 mesas , nunca contei e tem bem mais, e cada mesa pedia 5 ou 6 sumos naturais mais x torradas... Eu memorizava os pedidos e a ordem de atendimento, mas alguém não soube deixar as coisas organizadas para o dia seguinte... E com isto o que aconteceu?

Tive uma crise desde há anos... Comecei a hiperventilar, a chorar e quase desmaiei porque não aguentei a pressão. Foi um dia infernal em que juro por Deus que não fui gritar e partir tudo porque consegui regressar a mim própria... Tive 5 minutos assim sem saber se estava a respirar e a ficar branca... Não por uma peça, mas pelo transtorno de estar sozinha e sem saber o que fazer. Porque eu sou imperativamente responsável e sinto a necessidade de ser boa  a desempenhar determinada função. Eu exigo mais de mim e exigo ser eficiente nem que isso me custe a saúde e foi isso que aconteceu...

Estes últimos meses andei de mãos dadas com a ansiedade e tudo o que ela acarreta. Andei irritável, com crises de choro umas vezes e de repente super alegre...Não dormia o suficiente... Cheguei a adormecer para ir trabalhar tal era o meu ritmo de vida...Todos os dias...Todos... A acompanhar isto tudo uma péssima gestão dos patrões, que juro que nunca tal vi...Coisas que vi e que ouvi foram o culminar de muitas emoções.

No meio disto tudo, da exaustão o corpo começou a falhar.

As tais dores nos gémeos... Bem basicamente este estilo de vida nas férias conseguiu tirar-me alguma saúde...E as pernas incharam... Criei edemas nas pernas, mais não é que um acumlar de ácido lático (derivado dos treinos) e o sangue a acumular... Não conseguia correr sem uma dor que fosse, porém eu ia na mesma...Porquê? Porque a minha única maneira de controlar as crises era a corrida. Sempre foi...Porque ninguém olha para mim e diz que eu sou workaholic, só quando me vê a trabalhar é que percebe que eu tenho uma genuína afinidade com o trabalho, mesmo que ganhe uma miséria... Sou uma pessoa que exige perfeccionismo... E deixei-me ir. Até atingir a rutura total. Recentemente tive algumas sessões de fisioterapia para recuperar alguns dos danos resultantes deste estilo de vida frenético...

 

E as opinões dos especialistas são cruas e duras. Nunca vais melhorar este problema quando não parares e tendo em conta a tua situação... (e agora falando da coluna).

 

Já faz algum tempo em que sofri o acidente. Remontando em 2014 ... Agosto. Dia 31 tive um acidente estúpido...O maldito acidente de karting. Muita coisa mudou desde aí... Senti-me abençoada por ter tido sorte em não ter ficado de cadeira de rodas,uma vez que no dia do acidente cometi vários erros, como sair do kart a andar e caminhar uma série de minutos...

Em Setembro fui operada, e mal tive alta, isto depois de reaprender o básico (caminhar...), tive a cominação de que após um ano da operação deveria ser operada para remover o  material... Portanto em 2015 deveria ter sido operada para remoção do material e não aconteceu...Fiz o último TAC em 2015, exame que serviria de base para seguir os pressupostos...Mas os anos passaram e chegamos a 2017 quando os problemas começaram a aparecer (as chamadas sequelas que a médica falou que surgiriam se não tirasse o material...) Ovbiamente continuei a vida normal como qualquer jovem, continuei a correr e a trabalhar...

Quando comecei a sentir dores agudas na coluna,especialmente a treinar em pista comecei a preocupar-me. E por vezes podia estar sentada e surgir espamos na coluna o que não era normal... A minha escoliose piorou e correr começou a tornar-se díficil...A verdadeira rutura deu-se este Verão, onde eu expus o corpo a um nível de exaustão elevado... Tive algumas sessões de fisioterapia onde as razões eram sempre as mesmas. Enquanto tiveres isso na coluna vais andar sempre contraída e os nervos comprimem e o sangue não irá circular etc etc... Como é óvbio o problema maior não era só eu ter titânio na coluna, porque é possível viver com material na coluna,na perna onde quer que seja. No meu caso o corpo está a rejeitar porque aqui a pessoa não pára um segundo. Eu respiro trabalho e descarrego os meus depósitos nos treinos. Por vezes vou além do que me me deveria permitir ir... Simplesmente exagero. Nada disto é novidade para vocês que me acompanham...

 

Então...

 

 

Com este post quero explicar algo...

 

Quando fui para o ginásio engordei...

 

Devo ter chegado aos 63 kg. A  minha roupa deixou de ser larga para assentar no meu corpo... Basicamente os meus 57 kg foram para a casa dos 60 e isso fez-me confusão, porque eu tenho a mania da perfeição e enraizei a ideia de ser magra porque cresci a ouvir que era magra... Portanto se eu estivesse mais forte era sinónimo de que eu estava a falhar...O pior foi ver fotos minhas e ouvir comentários de que estava mais jeitosa e redondinha...Não é o que uma ex-anoretica quer ouvir e foi aí que comecei novamente a exagerar, porque sentia uma necessidade insana de perder peso para "ontem". Comecei a deixar de comer e a auto-medicar-me com um anti-depressivo que me punha literalmente a dormir... Lembro-me bem de que no dia da Meia Maratona de Cortegaça em que acompanhei a Mariline fui em jejum...Não almocei e fui jantar a casa do namorado e acho que comi uma fatia de pizza...Muito por insistência dele...

Os meus níveis de ansiedade subiram... Sentia-me verdadeiramente em baixo. Porque eu tinha engordado e não sabia porquê...

E eis que chego ao dia 21 de Novembro...

 

Após 5 meses de trabalho dia sim dia sim, sem dormir o suficiente e comer pouco finalmente vou de férias forçadas...

Procurei ao final de vários meses de insistência insistir na operação que acabou por ficar esquecida (isto porque o nosso SNS é top #soquenao). E eis que chegamos ao dia 22 de Novembro... Em que irei ser operada...

Podia dizer que estou feliz, eu até estou...Sinto que vou ficar melhor, no entanto ao mesmo tempo penso... Vou ter de parar.. E se correr mal? E se e se.... Tenho medo, medo de não voltar a correr.

 

Correr é a minha paixão, porque desde pequenina que correr me vai nas veias. Sempre fui a menina atípica que gostava de correr contra os meninos e ganhava e a menina que corria à chuva porque se sentia plena...Hoje em dia correr à chuva é o que mais gosto, porque devolve-me a infância e traz-me alguma paz... Aquela paz em que quando corria era porque amava, hoje corro para não me sentir culpada por comer como uma pessoa normal, apesar de que a principal motivação que me leva a correr é mesmo por eu encontrar-me a mim propria e a sentir-me em paz comigo e com os outros...

 

E chegamos aqui , escrevo isto em modo desabafo porque estes últimos meses foram intensos...Porque simplesmente os nervos apoderaram-se de mim e fiz os possíveis para não ter um esgotamento mental.. E para evitar isso usei a corrida, evitei o esgotamento mental, mas consegui o esgotamento físico, em que não tenho reservas nem mais capacidade para fazer um km sem ser  a chorar... Por incrivel que pareça, os meus tempos nas séries melhoraram...Porque às vezes eu separo a dor, da dor...

 

Sou demasiado exigente, com as pessoas no geral... Mas de mim espero sempre dar tudo. Ou eu dou tudo ou sou uma falhada...

 

Mas....

 

O post já vai longo e só queria dizer isto... Tudo em excesso faz mal...Já me dizia há algum tempo um seguidor no instagram que eu poderia vir a sofrer com o excesso de trabalho... No meu caso foi o cumular de toda uma panoplia de stress e acontecimentos que fizeram com que chegasse ao dia 21 e desistisse do treino... Pela primeira x em muitos meses decidi ceder... E porquê? Porque o corpo grita que nao aguentava mais e eu ignóbil não quero saber do que me diz, pois o primordial é não engordar e continuar o compromisso de ser uma boa atleta...

 

Portanto não me alongando mais, amanhã pelas 11 da manhã irei remover o material e espero que consiga ultrapassar esta fase...

 

Obrigada a quem leu até ao fim e a quem não irá julgar os meus atos.

 

 

Miriam Martins

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