Lesões - Como lidar com elas quando o lesionado és tu?
Uau...
Há quanto tempo não escrevia por aqui. Funny fact. A partir do momento em que a tua vida dá uma volta de 360 º e te vês minada de tempo eis que começam a persistir prioridades e manter o blogue activo não foi uma delas.
No entanto, com a aproximação das férias de Natal e estando com algum tempinho livre (isto porque também tive mudanças a nível interno no Tribunal) eis que aqui me encontro a escrever e atento o título deste post bem... Bora lá..
Não sei bem como começar. Sei que neste momento um turbilhão de emoções passam na minha cabeça, mas em modo cru e nu digo :
ESTOU LESIONADA.
Uau. Miriam... Parabéns, volvido um ano em que estavas parada (não por razões que assistem à tua responsabilidade mas porque tinhas de ser operada) eis que te encontras lesionada por estupidez e negligência.
É certo e sabido e quem me conhece que eu não sou de 8 nem 80 ... É até ao limite, é até partir, doa o que doer a gente insiste...
Mês de Outubro foi um mês intenso . Fiz quase 500 km (465 km para ser mais exacta) e bem a pessoa não anda a treinar para fazer maratonas mas adiante...
Novembro...
Mês em que atingi o apogeu da minha forma, estava a treinar bem (porém em excesso também) e com uma alimentação, diga-se de passagem nada exemplar, isto porque eu continuo assombrada com o passado e com receio de engordar e o que aconteceu nos últimos meses foi que ter aumentado o peso (mesmo que quase nada) isso mexeu comigo e vieram à tona aqueles pensamentos : "Estás mais pesada o teu rendimento vai ser pior." "Estás visivelmente mais gorda as pessoas vão comentar e vais passar mal." "Estás mais gorda, logo tens que perder o peso para ontem." . E porque razão falo isto?Foi talvez a razão principal, locomotora para facilitar a lesão (falarei adiante de que tipo de lesão é....). Isto porque a minha cabeça, quando no que concerne ao peso e imagem corporal, ouve vozes do além que te diz o que deves fazer para não entrar em conflito comigo própria. Então eu simplesmente enfiava na cabeça que iria fazer x km naquele dia (mesmo que tivesse feito uma prova no dia anterior eu ia correr 17 km no dia a seguir). Eu sou exigente comigo e nunca me permiti descansar um dia que fosse...
No fim de semana em que o meu namorado esteve em Lisboa, fiz eu e ele, uma prova, mesmo que em forma de treino, de forma rápida e num piso irregular. Eu terminei a prova e achei boa ideia correr 5 km de descompressão só porque sim, não vá eu engordar com o vento.
No dia seguinte eu tinha uma prova de cariz social - a corrida da mulher que decorreu em Lisboa, em que eram somente 5 km e eu claro ... 5 km é pouco. Logo para não engordar com um almoço de 200 calorias vou correr 15 km mas melhor para ser ainda melhor ainda vou caminhar... Tudo certo, tudo favorável. O mal nem foi os 15 km mas a velocidade (15 km a ritmo de 4.07 e tendo feito prova a 3.30) Ora...
Na semana a seguir ... Fiz séries ... (rápidas quando não devia ter sido) tinha o challengue nessa semana (3.000 mil metros) - prova de pista, prova que nunca fizera antes e tendo corrido a mesma num ritmo de 3'18 tendo concluido a prova com 10 minutos e uns 27 ss'. E o que fez a atleta consciente no dia anterior à prova? Correu 12 km a 4 '20 sendo que terminei esses 12 abaixo dos 4'10... Tudo consciente portanto. Nesse mesmo dia da prova voltei a repetir a proeza de correr 15 km também a um ritmo de 4' 11 ...e já tendo corrido nessa manhã aproximadamente 10 km... Ovbiamente correr 10 km era pouca coisa... E mais nesse dia sentia-me tão gorda que nem vesti os calções mais justos e pus uns mais largos... (Neuras)
...
Semana a seguir . Tinha prova em Vagos. Tinha tudo para ser recorde... Tinha tudo para ser 35 minutos ... Sabem quando acordam a sentir que o corpo está bem e tudo se alinha? Eu sentia-me confiante. Estava a treinar bem... Mas tinha começado a sentir uma pequena pontada numa quinta feira...
Tudo bem até então. Corri nessa quinta com o Fred. Tendo feito 16 km a 4'18 (isto a dois dias de prova e tendo feito séries de 400, as melhores que já tinha feito até então e sozinha).. Na sexta senti a pontada mas pensei... Deve ter sido um mau jeito ... No sábado... Dia da prova . Sentia a pontada novamente, ligeiramente mais forte mas nada impeditiva... Mas lá se revelou impeditiva durante a prova porque não consegui suportar a dor e tendo gerido a dor durante a mesma... Terminei com 37 minutos e uns pós e furiosa.... Terminei a mancar... Mas o que fiz a seguir? Fui correr mais 5 km... Porquê? 10 km é pouca coisa....
No dia a seguir, furiosa comigo e frustrada com a prova... Decidi que ia correr 18 km. O meu namorado disse para correr pouca coisa ... Ovbiamente que dei ouvidos às vozes da minha cabeça...
Nessa manhã chovia torrencialmente, mas a potes mesmo. Acordei a mancar. Nisto, vou ter com a minha mãe querida e peço-lhe bruffen 600. Mas como um não chega vão dois porque assim talvez consiga correr. Meti quinésio na canela, meti a meia de compressão e lá fui eu, com chuva até aos joelhos correr... Melhor... E como chovia e só tinha levado umas sapatilhas de corrida decidi levar as mais velhas e gastas lá que estavam em causa (não ia estragar as minhas outras não é assim?)
E lá fui eu, ainda meia que manca. A minha mãe a perguntar-me onde é que eu ia naquele estado e eu como se nada fosse... Vou treinar porque sim, porque eu quero porque preciso e eu é que sei .
E fui...
Os primeiros km foram no mínimo suportáveis mas lá foi passando. Lembro-me que parei ao 8 km com uma pontada grande. Alonguei e fui... Nessa altura dois colegas meus vinham a vir de uma corrida em Vagos e reconheceram-me e perguntaram se eu estava bem e se precisava de boleia... E eu logo disse que não e voltei a correr como uma perdida como se nada fosse. Não fosse a canela estar a latejar e eu estar ensopada da cabeça aos pés e cair uma jarda de água... Mas keep it up porque eu é que sei...
E prontos... 18 km feitos a 4'11 ... E uma volta para Lisboa em que desta vez fui de comboio a carregar peso até às orelhas... E está claro... Manca. Pisar o pé no chão era só a coisa mais horrível de sempre...
Pensei... Amanhã devo estar melhor... E os dias foram passando...
A dor continuava, tinha a canela inchada e eis que numa sexta já não suportando dores decidi que era boa ideia ir às urgências (bem eu não decidi, foi o fisioterapeuta que quase me coagiu a ir , portanto obrigada João) . E lá fui eu ... Frustrada com as dores e com o trânsito, dia em que esperei umas duas horas para ser atendida...
Fiz um raio-x que acusou meramente uma inflamação e a recomendação foi uma semana de repouso e eu pensei... Ok tenho a meia maratona de Évora... OMG . No entanto aconselhou fazer uma ecografia. E eu hmmm. Terça feira tentamos correr . Se correr bem não faço eco...
Bem o fim de semana passou, estava a ser medicada e sentia-me outra. Já não mancava. Bom sinal ... Pensei...
Então vamu que vamu correr na terça feira 30 minutos. E lá fui eu. Deixei as coisas no ginásio (sim porque eu nunca parei) e lá fui eu super entusiasmada com os auriculares . Eis que começo e ...
track...
Senti a dor mais fulminante que já tinha sentido... Isto a seguir a ter sofrido o acidente e ter sido operada a segunda vez... A dor foi horrível. Não corri nem 10 metros. Acabei a coxear e fazer pé coxinho. Tentei a segunda vez... Não deu... Tentei a terceira e já com lágrimas nos olhos, um ardor no estomago e a pensar que estava a viver um pesadelo... Não deu. Eu simplesmente não conseguia correr. Voltei ao ginásio, não a caminhar mas a mancar...
De lágrimas nos olhos comecei a ligar para as clínicas a pedir marcação para a Ecografia e só tinha data para o ano... E eu... OMG tenho distrital de estrada dia 09 de Dezembro, tenho os Açores dia 15, tenho a sao silvestre dia 31... Eu já tinha desistido de ir a Évora...
Mas como ainda há boa gente lá o meu amigo Tiago me safou e conseguiu o exame para mais cedo...
E o relatório dava periostite tibial e tendossinovite do perónio... O médico recomendou repouso (da corrida) e disse que fazer gelo e anti inflamatório e duas semanas tava ok. Tranquilizou-me... No entanto ... 3 ª semana quase a ir para a 4ª e as dores continuavam, mesmo com anti-inflamatório... E eis que o meu namorado em conversa com o fisioterapeuta dele achou por bem eu fazer um raio x outra vez... E eu pensei... Faço se a dor voltar... No entanto a dor agravou e eu ia tentar correr nesse dia uma voz sensata (aparece uma x na minha vida) disse vai ao hospital. E eu fui...
E o diagnóstico e a suspeição do fisio do meu namorado confirmou-se...
Fratura de stress no perónio..
No passado domingo fiz a Ressonância só para confirmar o veredicto. Chorei muito nesse dia, não só pelas dores de cabeça que tive de fazer a ressonância, das dores na canela... Mas como vi um ano inteiro de lutas a ir pelo cano abaixo. Juro que no domingo eu senti-me bem lá no fundo. Enquanto amigos e colegas batiam recordes nas provas eu chorava na cama... Eu pensava porquê eu? Porquê? Já não tinha bastado todas as dificuldades que foi voltar a correr após ter sido operada... Tinha que me acontecer a mim...
A verdade é que sim... Não acontece só aos outros e eu sei que abusei mas acho que não merecia... Eu acho que não...
O mês de Novembro foi particularmente dificil para mim ... Muito . Mudanças no trabalho, stresses no trabalho, família longe, namorado na Alemanha, falta de descanso e muito stress acumulado... Sei que todos temos problemas mas sei que passei um mês na merda, não só porque vi-me privada de correr mas porque fui submetida a acessos de raiva constantes...
E agora o verdadeiro fundamento deste post...
Foi um desabafo... Foi. Sinto-me melhor a berrar isto cá para fora do que o guardar cá para dentro... Mas é uma chamada de atenção... Um dia estamos lá em cima, no outro lá em baixo a olhar para trás a pensar e no se....
E agora o que se segue?
Custou-me muito aceitar que de facto estava (e estou) lesionada e que imperativamente tinha de parar (isso inclui caminhar). Amanhã quarta-feira tenho a consulta de ortopedia e a análise da gravidade da lesão para ver até que ponto posso ir (se posso nadar por exemplo) e quais os próximos passos (tratamento, repouso etc...)
Se estou a lidar bem? Não.
Mas quando a solução não existe, só mesmo recuperar tens de descer à terra e pensar...
Porra ... Fiz tanto mal a mim própria e o meu corpo grita por descanso que eu teimo em não dar só porque a cabeça o assim permite.
Então lesões e lidar com elas tem muito a ver com a capacidade de força de vontade que têm.. Eu quero mesmo muito voltar a correr. Tenho imensos objectivos, desde fazer provas em pista como bater os meus recordes na distância que eu sei que consigo.
Mas para que tal possa ocorrer tenho de parar e pensar que sem saúde não há nada e de nada me adianta lamentar o mal que já está feito. Tenho de agarrar neste evento e usá-lo no futuro quando estiver bem...
Não ignorar sinais que o corpo dá (uma ligeira dor por insignificante que seja) pode ser o começo de algo mais grave que foi o que me aconteceu...
Infelizmente eu ignoro todos os sinais que o meu corpo me dá porque eu sou de extremos... Mas os extremos levam-me neste momento ao ponto actual - em que me vejo impedida de fazer algo que amo de coração com todas as forças que é correr.
Posto isto vamos ver se em Janeiro quiça posso voltar a calçar os pneus e gastar alcatrão, tartan e quanto tudo que é percurso...
Uma promessa eu faço que sei que vou cumprir.
Voltarei ainda mais forte .
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