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Aquela Runner Obcecada

Aquela Runner Obcecada

A importância de fazer RESET ao corpo

Buenas Tardes,

 

Em primeiro lugar (antes de vir sempre aquele ódio de que eu não percebo nada disto), quero deixar a ressalva de que este blogue apenas se trata das minhas experiências pessoais, não serve de exemplo e apenas serve para quem de alguma forma se identifica.

 

Posto isto, alerta dado let's go 

 

 

 

O nosso corpo é uma máquina certo? Uma máquina não funciona sem combustível, assim como passado um determinado tempo pede alguma revisão, mais não seja uma manutenção.

 

O meu carro quando atinge um nº de km vai precisar de óleo, filtros, eventualmente os pneus começam a ficar carecas e precisam de ser trocados... Etc. 

 

Então o nosso corpo também precisa de manutenção? Claramente que sim.

 

Ao longo do ano devemos fazer análises regulares, sejamos atletas ou não. Todo o ser humano precisa de ver se a saúde está em dia. 

 

E o atleta que passa o ano todo a competir?

 

A época desportiva tem várias fases. Existe uma altura em que a chamada época termina, épca essa que pode ser diferente para alguns atletas. Mas falando também do comum atleta de fim-de-semana, ou o atleta que basicamente treina para se manter saudável, o corpo precisa de descanso. Não falo daquele descanso pontual de uma vez por semana, mas sim aquele mais extenso (por norma 1 a 2  meses) dependendo da modalidade e da intensidade que o atleta aplicou durante a sua época desportiva.

 

Agora vou dar o meu exemplo prático...

 

Lesionei-me em Novembro, e retomei os treinos em fins de Janeiro e os meses que se seguiram traduziram-se num aumento de carga sucessiva. Apesar de ter progredido, cometi erros crassos (nomeadamente não seguir um plano de treino), ou seja, limitei-me a correr o que queria, quando queria e as vezes que queria. Sem interrupções. Posso dizer que o meu mês mais intenso foi Março (550 km)  e o mais calmo foi Junho (410 km). Em termos de competições fiquei aquém do que pretendia e do que valia mas também não fiz muitas provas:

 

Corrida da Mulher em Março - 19 minutos em que estava a voltar, mas estava com uma carga intensa (mais de 500 km desde a lesão);

A imagem pode conter: 3 pessoas, incluindo Miriam Martins, pessoas a sorrir, pessoas em pé

 

Fiz a meia de Ílhavo em Abril (1hora24min);

A imagem pode conter: 1 pessoa, ar livre

Fiz a corrida da liberdade em Lisboa, Abril, em que fui primeira da feminina geral, com o tempo final de 39 minutos na distância de quase 11 km;

A imagem pode conter: 2 pessoas, incluindo Miriam Martins, pessoas a sorrir, pessoas em pé, criança e ar livre

Fiz a meia maratona de Cortegaça que foi em Maio, em que desmaiei no final (anemia instalada, mas terminei a prova após parar 7 vezes com o tempo final de 1hora29min;

 

Corrida EDP - A mulher e a vida (5km) com o tempo final de 18:51 mas sendo TOP 10 com excelentes atletas a nível nacional e duas estrangeiras

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Fiz 4 provas de pista pela primeira x:

 

10 km - 39:14

5 km - Meeting de Lisboa, em que estava muito bem , fiz mínimos para os campeonatos de Portugal de pista - 18:07

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5 km regional de Aveiro com imenso vento -18:57

A imagem pode conter: 3 pessoas, ar livre

3 km regional de Aveiro com imenso vento - 10:55

A imagem pode conter: 1 pessoa, ar livre

 

 

Basicamente não competi "Muito".

 

O que retiro destes últimos meses é que gostei imenso da experiência em pista porque é diferente de correr em estrada, é preciso saber sofrer mais, é necessário saber correr na pista (táctica, gestão, técnica...)

 

Fiz no geral mais bons treinos que boas provas.

 

No entanto, considerações à parte, não posso dizer que fiz uma boa época desportiva porque matei-a logo quando me lesionei, e este mês comecei a ver a minha vida a andar para trás.

Depois de fazer os regionais de pista, fiquei sem tomar o ferro para a anemia (não vou dizer a razão de ter deixado de tomar) e o que se passou foi o seguinte:

Fiz uma prova que não contava fazer (os 5000) ao invés de 1500, o que já provocou logo um desgaste físico nesse fim-de-semana e considerando que já levo mais de 1000 km nas pernas desde a lesão, uma anemia era tudo o que não esperava e começou a trazer as primeiras consequências (cansaço extremo, insónias, tonturas…)

Mesmo assim, queria fazer os 5000 nos campeonatos de Portugal e como tal, continuei a puxar pelo corpo e fazer os treinos como no resto do ano, logo tive que me esforçar o dobro para conseguir treinar.

Até certa altura tive rendimento. Estava efectivamente a andar bem nas séries mas comecei a sentir dores fortíssimas nas canelas.

Quem já me conhece, sabe que no ano passado por esta altura, fiz uns exames à circulação venosa e foi-me dito que tinha síndrome compartimental crónico, tendo o médico sugerido operar, no entanto, pedi uma a opinião ao fisioterapeuta, que me aconselhou a não fazer qualquer intervenção cirúrgica, porque eventualmente ficava boa durante alguns meses mas que seguramente tinha muita probabilidade de ter o mesmo problema mesmo operando, passados uns meses. A par com isso tinha dores nas canelas…

Neste momento que escrevo isto, vou na minha segunda semana sem treino (de corrida). Tenho optado por nadar, caminhar e fazer algum reforço ligeiro só para manter o corpo activo. Isto porque eu no dia 13 de Julho, a fazer o meu penúltimo treino de séries até à prova dos 5000 decidi que não podia arriscar uma lesão mais grave... Mas não foi uma decisão leviana... Fiz o treino nesse dia, nesse dia andei a chorar que até fiz uma ferida debaixo dos olhos ...

Nesse treino (que não era difícil),  consegui não fazer o que me propus (sofri no aquecimento, nas séries que fiz que eram apenas 3 e com 3 minutos de descanso e o pior, é que sofri na descompressão, a correr devagar, descalça e na relva…

No final do treino tinha as pernas (desculpem a expressão) “bambas”. Sentia uma dor tão aguda, queimação, como se tivesse alguém a espetar facas nas pernas. E a dor não passava. Estive cerca de 10 minutos sentada na relva sem conseguir alguma reacção das pernas e pus-me a pensar…

“Que raio estou a fazer a mim e ao meu corpo?” – É que o pior nem eram as dores, mas sim o ter dores e ainda ter tomado um anti-inflamatório. Tudo maus  sinais! Se tomas um medicamento para as dores, é suposto elas diminuírem um pouco… Digo eu...

Nesse dia e após ouvir o meu namorado e o colega de que não adiantava massacrar,   mais que isso, pensei, porque raio ia arriscar uma lesão? O objectivo passaria para ir fazer a prova a dar o meu máximo, o meu melhor...Até ia conseguir chegar ao dia e fazer a prova, contudo ia sofrer bastante e não ia competir no meu melhor. Obvio que a intenção não era ganhar às melhores atletas nacionais, mas sim fazer uma marca melhor do que a que fiz na primeira vez que me estreei na pista nesta distância.

Eventualmente fazia a prova sim, fazia um tempo igual ou pior e talvez fizesse uma fratura de stress nas duas tíbias e quiçá… Mais uns meses parada, não 3 mas mais… Valia a pena o sacríficio?

Foi isso que pensei …

Chorei imenso nesse dia, pensei 30 vezes se sim ou não (o que demovia eram as dores nas pernas sem correr). Eu sou a pior pessoa para ouvir os sinais do corpo, mas felizmente consegui ir contra a minha teimosia e dizer não! Não e não. A cabeça é um pilar importante num atleta, mas não basta isso.

Temos que estar focados, temos que nos conhecer, saber e entender as necessidades do nosso corpo. Não fazer o treino porque está lá na agenda, mas nesse dia caíste das escadas e estás todo magoado, mas vais porque está lá… Eu confesso que sou dessas. Posso estar com um pouco de gripe, ou ter acontecido algo que me prejudique na saúde, vou igual. Fiz isso na meia de Cortegaça e o corpo deu todos os sinais com uma semana de antecedência. Que fiz eu ? Fui na mesma. O que fiz na prova? Fui até ao fim. Que repercussões teve a minha teimosia em não ouvir o corpo? Uma febre, um dia a menos no trabalho, frustração, perda de sinais no final da prova…

Por isso sim. É preciso ter uma grande capacidade mental e de força (não física) mas mental para fazer treinos, provas sem ceder aquele sofrimento característico… Mas há o sofrimento em que :

-sofres agora mas recuperas depois;

-sofres, voltas a sofrer e no dia a seguir ainda sofres…

Quer isto dizer…

 

Atletismo de competição não é saudável.

Desporto em excesso não é saudável.

É preciso parar algumas semanas para o organismo se “preparar” para outro mesociclo. Cada vez mais fico consciente da importância do papel do descanso. Efectivamente estive de férias nessa semana em que decidi parar… Mas o mais  grave e flagrante é que não estava a trabalhar, só a comer e a dormir. Por isso seria de esperar estar bem recuperada para treinar... Mas até sair da cama era um acto heróico.

 

Por fim...

 

A importância de fazer um RESET ao corpo vai além dos benefícios físicos... 

 

É importante a nível psicológico e porquê?

Chega a um ponto de meses e meses a fios de treino, em que o desgaste físico sente-se. Mas e o psicológico?

Quando treinas bem e os resultados ficam aquém do que treinaste isso desgasta. Pelo menos eu senti-me assim estes últimos meses. Mesmo fazendo 30 por uma linha, deveria estar melhor nas competições... Chegava ao ponto de não me sentir bem mentalmente para fazer uma prova. A ansiedade incontrolável, aquela paixão íntreseca não estava tão vincada... Eu comecei a sentir pressão, não dos outros, mas de mim própria. Queria exigir do meu corpo tudo e mais alguma coisa... Isso a nível psicológico é frustrante porque queres tanto uma coisa que fazes de tudo mas fazes tudo mal... 

No outro dia publiquei uma foto com esta citação (minha by the way) ...

Know yourself is the first step to you Don't Be responsible for your failure, so it's About time to focus on that really matter... You. 
When you learn how deal with your Mind issues you became your own heroe not your enemy. 

A imagem pode conter: uma ou mais pessoas e sapatos

Acho que este ano não sabia bem o que queria. 

É importante ter os objectivos bem definidos. Ora, eu queria voltar logo a competir após a lesão, ora eu queria fazer meias maratonas, ora queria fazer pista, ora queria fazer provas de 10 km... Mas afinal o que é que eu queria? Nem eu sabia, queria fazer tudo e nada.

Não me encontrei nestes últimos meses, basicamente andei a vaguear e a treinar sem cabeça... Simplesmente não sabia o que queria, não estava focada em nada senão em recuperar... Mas recuperar o quê e para quê? 

Simplesmente quis voltar e quando voltei, cometi muitos erros.

Por isso PARAR.

A importância de parar serve para regenerar o corpo e serve para refletir naqueles dias em que estás sem correr para pensar:

-porque corres?

-quais os teus objectivos de correr?

-o que é que procuras atingir a curto/médio/longo prazo?

-o que correu mal?

 

Isto serve não só para a corrida mas para o resto dos desportos.

 

Neste momento com a minha segunda semana off de treino tenho a cabeça mais assente, estou visivelmente mais recuperada, sinto-me fisicamente melhor apesar de continuar activa mas a um ritmo moderado tendo em consideração que estou a tentar recuperar da anemia... Mas acima do bem estar físico e psicológico, sinto-me mais madura, mais consciente do que quero. 

Fui assistir aos campeonatos de Portugal neste fim de semana e dei por mim triste por não poder ir... Poder podia... 

Mas no 2º dia comecei a pensar ...

Vi a prova na qual eu eventualmente ia correr e pensei...

Se eu estivesse aqui hoje como estava na semana passada ia SOFRER, ia penar por um tempo de merda ...E pensei ... Em condições normais faria um tempo exelente mas neste momento não estou.

Um atleta não é obrigado a estar a 100 % o ano inteiro. Nem os grandes estão sempre no máximo das suas capacidades. O que dizer de amadores que dividem o tempo pela carreira profissional, não tem estágios e apoios, outros que têm filhos para criar, estudam e afins?

Estou mais madura.  Digam sim ou não, mas eu sei que estou.

Orgulho-me de dizer que me lesionei por uma coisa facilmente recuperável, porque agora a conversa podia ser diferente, eu podia ter optado por ter ido aos campeonatos e dizer neste post , opa lesionei-me com uma fratura e fiz um tempo de merda... E vinha aqui chorar baba e ranho.

Então eu orgulho-me por finalmente ter parado antes do "Tarde demais". Abdiquei de algo que queria muito mas que sabia que não estava em condições para o fazer bem porque sei que que tenho as capacidades para fazer "X", porque raio me iria contentar por fazer "Y"? Só para dizer "Hey estive presente nos campeonatos mas arrastei-me?".

 

Por isso, pessoal viciado como eu...Ou que por outras questões acha que parar não é importante, é importante sim.

A vida não é só correr. 

Confesso que ainda tenho pancas em treinar todos os dias mas cada vez menos , não vou ficar mais ou menos gorda por isso, não vou perder a forma com umas semanas de descanso, muito pelo contrário.

Pessoal que pensa que se estiverem uma ou duas semanas sem correr vos faz perder a performance, esqueçam... Nada disso. 

Já dizia o meu fisioterapeuta que me tratou da fratura (TODOS OS ATLETAS DEVEM PARAR NO MÍNIMO, SUBLINHO, MÍNIMO , 1 vez por mês para ficar OFF - façam caminhadas ligeiras, deem um passeio de bicicleta, façam uma meditação, uns alongamentos, uns exercícios básicos... Esqueçam o tal desporto de competição uns tempos) .

Não é saudável nem é sustentável, especialmente se não fizeres disso a tua vida profissional.

Tenho colegas que à minha semelhança, lesionados há alguns tempos, continuam a treinar condicionados com medo de perder a forma... Mas estagnaram...

De que adianta treinarem condicionados? Não ganham nada com isso, senão ficarem frustrados por os resultados não aparecerem... Pior que isso, vão acabar por criar problemas que podem não ter solução...

 

E o post já vai longo :) 

 

Por isso quem estiver a ler, se se indentificar de alguma forma e se neste momento está de férias, aproveita para  dar uns dias de folga ao corpo. Deixa-o "engordar", deixa-o ficar de "papo para o ar", deixa-o respirar de alívio após meses e meses a pedir-lhe esforços insanos...

Ele merece, a tua cabeça merece...

Tirei esta foto após vir dos campeonatos e vinha muito animada :) . Custou no primeiro dia, no segundo já só pensava nos benefícios de ter parado e que vai valer a pena. Especialmente porque além do RESET ao corpo, está a ser uma desintoxicação à cabeça. Vou voltar com tudo, mas com regras.

O nosso bem estar precisa disto como precisamos de oxigénio para sobreviver.

 

E com orgulho acabo este post a dizer que estou super mega feliz por não estar a colapsar da cabeça por não correr e ansiosa por ir de férias com o meu namorado e passar uma semana só a desfrutar da vida, a passear, sem ter que me preocupar em acordar cedo para treinar ou sem me chatear com as calorias que vou ingerir. A vida não se resume a treinos e trabalho... A vida é tão mais que isso.

E dedico-te a ti este texto gigante (meu querido namorado), um pouco em tom de desabafo para agradecer o bem que me tens feito e que mesmo que aches que não, os teus conselhos vão entrando devagarinho a um pace de 7 minutos ao km na cabeça oca... Vão devagar mas vão fluindo. E claro pela GRANDE paciência que tens em me ouvires a chorar e a lamentar... Agradeço-te tanto, mas tanto, que não consigo pô-lo em palavras... Mas acho que lá no fundo tu sabes, mesmo que não acredites que não ligo nenhuma ao que dizes.

E posto isto boas férias <3

 

Sejam felizes ****

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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